sexta-feira, 30 de março de 2012

AGENDA DE ABRIL



Fala galera! Vou começar a inserir no blog algumas das minhas adaptações e histórias autorais. Já publiquei o Moitará. Abaixo a minha agenda de abril onde só dá história de índio lembrando o dia 19 de abril.


20 - Semana Literária Escola Parque (Gávea) - O Homem da Cabeça de Papelão/ Áfricas
21 - Livraria Argumento Barra (Rio Designer) - Lendas Indígenas - 11h
22 - Livraria Argumento Leblon - Lendas Indígenas - 11h
25 - SESC Madureira (Biblioteca) - Lendas Indígenas - 14h30
27 - Semana Literária Escola Parque (Barra) - O Homem da Cabeça de Papelão/ Áfricas



Aguardo vocês!

MOITARÁ

Há muitos e muitos anos, não existiam supermercados, farmácias, padarias e nem loja de brinquedos. As pessoas plantavam e criavam animais para poder comer, elas faziam seus remédios com plantas da natureza e faziam também os próprios brinquedos.

Há muitos e muitos anos não existia também o dinheiro. Não existia lugar pra comprar, então pra que existir dinheiro? Mas como será que as pessoas faziam? Não dava tempo pra plantar todas as coisas: batata, cenoura, tomate, alface, abóbora, banana, laranja. Nem pra criar tantos animais: galinhas, porcos, bois, carneiros... e ainda fazer remédios, ferramentas e brinquedos.
O que fazer então se você só tinha batatas e precisava de leite? Ou se você só tinha brinquedo e precisava de remédio? Ah, as pessoas trocavam as coisas entre elas: batata por leite, remédio por brinquedo, ovos por laranja e assim por diante. Desse modo, todos tinham o que precisavam. Os índios também faziam assim. Aliás, eles fazem até hoje, numa festa conhecida como Moitará. Vocês querem conhecer o Moitará?

 

Ah, êh, êh,êh!

Moitará, Moitará!
É noite escura na aldeia. Todos os índios dormem. Lá longe a coruja pia  ̶  uh, uh, uh  ̶ , a água do riacho corre por perto  ̶  chuááá  ̶ , as folhas das árvores balançam com o vento  ̶  fuuuu.
É noite escura na aldeia. Todos dormem. Menos Irerê, um menino, ou melhor, um curumim. Irerê está com os olhos abertos. Não consegue dormir pensando no Moitará, a grande festa de troca que vai acontecer no dia seguinte. Irerê levanta da rede e caminha para fora de sua oca – a casa de seus avós, seus pais, seus irmãos. Caminha sem fazer barulho  ̶ shhhh  ̶ para não acordar ninguém. O ar frio toca seu corpo e o faz arrepiar  ̶ brrrrr. Irerê olha o céu azul escuro, olha para a lua branca lá longe e pensa no Moitará e em todas as coisas que ele vai trocar no dia seguinte.

Ah, êh, êh, êh!

Moitará, Moitará!

Vamos trocar mandioca!
Vamos trocar uma canoa!
Vamos trocar peixe bom!
Vamos trocar arco e flecha!

Em outra aldeia, não muito longe dali, todos os índios também dormem. A coruja pia bem perto  ̶ uh, uh, uh  ̶ , a água do riacho corre não muito longe ̶  chuááá ̶, as folhas das árvores balançam com o vento  ̶ fuuuu.
É noite escura na aldeia. Todos dormem. Menos Iara, uma menina, ou melhor, uma cunhatã. Iara também está com os olhos abertos e, assim como Irerê, não consegue dormir. E por quê? Porque Iara também pensa no Moitará. Mal pode esperar a hora de ir para a grande festa de troca no dia seguinte. Então, Iara levanta da sua rede e caminha para fora da oca – a casa de seus avós, seus pais, seus irmãos. Caminha sem fazer barulho  ̶ shhhh  ̶ para não acordar ninguém. O ar frio que tocou o corpo de Irerê também toca o corpo de Iara e a faz estremecer  ̶ brrrrr. Iara olha para o mesmo céu azul escuro, para a mesma lua branca lá longe e pensa no Moitará e em todas as coisas que ela vai trocar no dia seguinte.

Ah, êh, êh, êh!
Moitará, Moitará!

Vamos trocar guaraná!
Vamos trocar uma peteca!
Vamos trocar bela pena!
Vamos trocar maracujá!

Irerê de um lado. Iara do outro. Os dois índios olham pro céu e sonham acordados. O céu já não é mais tão escuro. Já começa a clarear. O sol traz o dia, chega manso, devagar, no sopro do vento  ̶  fuuuu  ̶  , no barulho do riacho  ̶ chuááá ̶ , no som dos bichos da floresta, da coruja  ̶  uh, uh, uh  ̶ , da arara  ̶  arara-arara  ̶ , do macaco ̶  uh uh ah ah  ̶  e da cobra  ̶  fssssss.
O dia que vai surgindo é dia de festa. Irerê e Iara, cada um em sua aldeia, pensam em tudo que vão levar para o Moitará: mandioca, canoa, peixe e arco e flecha, guaraná, peteca, pena e maracujá! E imaginam ao mesmo tempo as coisas que vão trazer.
Irerê! Irerê! O canto do pássaro é como o seu nome. O canto do pássaro anuncia a manhã! Então, o menino curumim suspira profundamente e caminha pra sua rede, vai dormir um pouco antes da grande festa. Iara faz o mesmo. É hora de descansar.

Ah, êh, êh, êh!
Moitará, Moitará!

Acorda maloca
É hora de trocar!
Acorda maloca
É hora do Moitará!

Mas pobre curumim, pobre cunhatã. Perdem a hora. Acordam apressados, lavam o rosto na água do riacho, pegam suas coisas e correm pra festa. O dia que chega é um presente e uma festa da vida. O calor do amigo Sol esquenta o corpo e o coração. Durante a festa, em meio a tanta gente, Irerê encontra Iara, Iara encontra Irerê. Irerê troca mandioca pelo guaraná. Iara troca a peteca pelo arco e flecha. Irerê troca sua canoa pela bela pena de Iara. E Iara troca seu maracujá pelo peixe bom.
Os dois ficam muito felizes com suas trocas e voltam para as suas aldeias com as novas coisas. Mas Irerê e Iara trocam algo mais naquele dia. Algo que eles ainda não sabem o que é ao certo. Só depois de muitas luas e sois é que saberão que tinham trocado os seus corações.

Irerê – Iara, Irerê - Iara
Irerê – Iara, Iara – Irerê!

O Moitará é a adaptação do conto "Irerê", de Cláudia Hlebetz, que por sua vez é inspirado no ritual do Moitará das tribos do Xingu. A história acompanha o brinquedo Caixa da História, produzida pela Emabrinq dentro do projeto Histórias de Crianças.
Inicialmente, preparei essa história para o Grupo Pequenas Mãos do Centro Cultural Banco do Brasil – Educativo que desenvolve ações voltadas para crianças de três a seis anos. Posteriormente a adotei em meu repertório estreando-a na Festa Literária de Santa Tereza  ̶ FLIST, no Parque das Ruínas, em maio de 2011 . Abaixo o link.