quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ABRIÇÃO


"Oh, de casa! Oh, de fora! Pode vir, pode chegar minha porta está aberta..."


Quando eu era pequeno eu morava n´uma cidade pequititinha e voltava sempre sozinho pra casa depois da escola. Da escola o que mais gostava era das histórias e sonhava em ser um contador de histórias, mas eu era muito tímido e também não conseguia guardar as histórias na minha cabeça. Um dia voltando pra casa sozinho ouvi alguém me chamar: Gabriel! Olhei para um lado, pro outro e não vi nada. Continuei andando quando ouvi de novo: Oh Gabriel! Levei um susto. Era nítido o meu nome. Uma voz grave e forte o pronunciava. Olhei pra um lado, pro outro, pra frente, pra trás, pra cima, pra baixo e nada. Não via ninguém. Continuei andando - agora um pouco mais rápido -  quando ouvi de novo: Oh Gabriel! Olhei pro lado e vi um velhinho muito pequeno, mas muito pequeno mesmo, desse tamaniquinho aqui, tão pequeno que não chegava nem no meu joelho (E lembrem-se que nessa época eu também era pequeno). Espantado eu olhava pro velhinho sem conseguir me mexer. Ele olhou no fundo dos meus olhos e disse: Oh, Gabriel ! Apesar de pequeno ele tinha um vozeirão!
-         Você gosta de histórias?
Não consegui responder, mas a cabeça disse que sim.
-         Você quer ser um contador de histórias?
Fiz um esforço:
-         É claro, mas eu não posso. Não consigo...
Ele me interrompeu.
-         Então vou te dar um presente, mas jamais se separe dele.
E o velhinho enfiou a mão no pequeno bolso da calça, enfiou o braço, depois a cabeça e quase somiu dentro do próprio bolso. Quando saiu trouxe com ele um chapéu amarelo e disse:

-         Dentro desse chapéu tem todas as histórias do mundo. Coloque-o na cabeça e comece a espalhar histórias por onde passar.
Peguei o chapéu e antes que pudesse agradecer o velhinho tinha sumido.... Nunca mais o vi, mas sabia que meu destino estava traçado. Eu seria pra sempre um contador de histórias.

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